São José dos Campos
/
jul 11, 2022Como funciona o ensino investigativo?
AUTOR
huia
ASSUNTO
Educação
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São José dos Campos
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jul 11, 2022AUTOR
huia
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Com o passar dos anos, a aprendizagem integrada, situada e ativa, naturalmente associada à educação infantil e aos anos iniciais do ensino fundamental, tende a perder espaço para atividades focadas em conteúdos e habilidades adquiridas pela prática e repetição. O Project Based Learning (PBL), muitas vezes utilizado como abordagem de ensino em escolas bilíngues, também parece ficar reservado ao currículo complementar, enquanto as disciplinas do currículo base são trabalhadas de modo mais linear e tradicional.
Sabemos que não há uma única forma de organizar as compreensões essenciais e as práticas escolares que apoiarão os alunos em suas trajetórias de aprendizagem, mas o que sabemos é que caminhos diferentes levarão a resultados também diferenciados.
É pensando nisso que escolas voltadas à formação de jovens inovadores, críticos e responsáveis, que podem fazer a diferença para as próximas gerações, dedicam-se a práticas pedagógicas dinâmicas, equilibrando o ensino contextualizado e o rigor acadêmico nas várias áreas do conhecimento.
Uma maneira de trabalhar o currículo, em todas as etapas de ensino, de forma experiencial e reflexiva é por meio da investigação dialógica, também conhecida como o “inquiry-based learning”. O International Baccalaureate (IB), uma das mais importantes organizações dedicadas ao desenvolvimento de currículo e certificação para escolas internacionais, valoriza essa abordagem como meio para a construção da mentalidade internacional.
Mas como isso acontece na prática? O processo de investigação dialógica possibilita despertar a curiosidade e gerar engajamento, uma vez que não há uma única resposta ou um único caminho a ser percorrido para solucionar problemas.
Na Sphere International School, o projeto de pesquisa do Year 9 é um exemplo de aprendizagem por meio do inquiry. Todos os anos, os alunos são convidados a escolherem temas de seu próprio interesse para uma pesquisa aprofundada, apoiada por um professor orientador e realizada em duas línguas, português e inglês. A professora orientadora Talita Vieira, ressalta a diversidade das temáticas e o desenvolvimento de agência dos alunos durante o projeto:
It always amazes me how much the students grow through this process. It is so beautiful to see young people striving to learn about so many different subjects such as genetic engineering, autoimmune diseases, and many others. It shows their open minds, their inquiry skills, and it culminates in a public presentation where they get to show the results of their research, using their presentation literacy skills. It so rewarding to see them developing agency and being the communicators that they all are in their own way.
O professor e orientador de projetos de pesquisa Danilo Siqueira também comenta sobre alguns trabalhos desenvolvidos em 2020:
Meus orientandos trabalharam com temas como Apartheid, Guerra do Vietnã, Direitos Civis dos negros nos Estados Unidos, A cultura egípcia e A evolução dos aviões nas guerras mundiais.
Esta é uma incrível oportunidade para o desenvolvimento de agência por meio de habilidades de investigação, pesquisa e comunicação, bem como, de promover uma experiência para além dos conteúdos abordados em sala de aula.
Os depoimentos revelam como os trabalhos de pesquisa de alunos de Year 9 ajudam a desenvolver habilidades de autogerenciamento e resolução de problemas, ao mesmo tempo em que nutrem os talentos e as paixões de cada aluno.
Trevor Mackenzie, autor de Inquiry Mindset: Nurturing the dreams, Wonders & Curiosities of our Youngest Learners (2018, p.21), diz que “Compartilhar o processo de aprendizagem com nossos alunos, gradualmente transferindo o controle sobre a aprendizagem ao aluno, permitindo que sigam suas paixões, curiosidades e questionamentos, são benefícios possibilitados pelo modelo do inquiry”.
As novas gerações, tecnologicamente conectadas desde muito jovens, já possuem ferramentas para acessarem informações diversas, antes mesmo de serem apresentadas a elas formalmente, em aulas ou materiais didáticos. Mas como saber avaliar as diferentes fontes e perspectivas? Como problematizar e contextualizar os saberes, possibilitando a formação de novos conceitos? No processo de investigação, o aluno percorre etapas também conhecidas como o “Inquiry Cycle”. Há mais de duas décadas, o trabalho de Kathy Short (1996) ganhou projeção por explicitar, de modo bastante didático, as etapas desse processo.
Inicialmente, os alunos são estimulados a demonstrarem seus conhecimentos prévios. “O que já sabemos?”. Todo novo conhecimento se constrói a partir de noções e experiências prévias. Não subestimar a criança ou jovem significa ter a sensibilidade de conhecer um pouco sobre o repertório de cada um.
Como saber o que queremos saber? Ao contrário de lançar questionamentos estáticos, o professor deve criar ambientes “ricos” e variados de exploração, que possibilitem o levantamento de perguntas coletivamente construídas.
Novas experiências e fontes variadas de informação são essenciais para que os alunos sejam provocados a irem além. Nessa etapa, a interação com os colegas e/ou professores é essencial, pois permite que a aprendizagem seja expansiva, assumindo caminhos antes não imaginados.
Esse é o momento da diferenciação. Cada aluno é afetado pelo processo de investigação de uma maneira diferente. Alguns terão que ser apoiados em suas necessidades específicas, com atenção a estratégias que permitirão seu sucesso, sem necessariamente simplifica as propostas de trabalho. Outros alunos podem ser estimulados a irem além, a buscarem ampliar e aprofundar ainda mais seus saberes.
O momento de compartilhar o que foi aprendido revela as noções comuns construídas pelo grupo e ainda as compreensões particulares de cada aluno. Comunicar de formas variadas, por meio de diferentes modalidades e mídias também auxilia a desenvolver habilidades que são transferidas para a vida cotidiana.
O processo investigativo é contínuo, ou seja, na medida em que descobrimos saberes e fazeres antes desconhecidos, novas perguntas e problemas surgirão. A beleza desse processo é o estímulo a sermos eternos aprendizes, encontrando o belo no questionamento das coisas.
O processo é permeado pela reflexão e volta-se à ação, seja ela no ambiente familiar, escolar ou no entorno, de modo mais amplo. Ao longo de suas trajetórias escolares, os alunos são apoiados e encorajados a transformar e inovar, conscientes de suas responsabilidades na comunidade local e global.
Em seu blog “Just wondering…”, Kath Murdoch (2015), uma das principais estudiosas do inquiry aplicado ao contexto escolar, oferece dicas para professores que trabalham com o inquiry neste período de pandemia do covid-19. A pesquisadora enfatiza a importância de criar, mesmo em tempos de ensino remoto, ambientes de aprendizagem que empoderem os alunos como pesquisadores confiantes, capazes e criativos, garantindo assim, que o ensino nutra a sensação de admiração com a qual todos nascemos.
https://www.kathmurdoch.com.au/blog
Nessa linha, Mackenzie (2018, p. xxiii) nos lembra que o inquiry não é apenas um processo, é principalmente, uma mentalidade ou postura investigativa. Em suas palavras: “A mentalidade do inquiry é sobre empoderar nossos alunos com as ferramentas, compreensões e habilidades para fazerem a diferença no mundo”.